quarta-feira, 20 de abril de 2016

Bela, Recatada e do Lar: mirem-se no exemplo das nossas mulheres de Atenas...

Quando pensamos que as grandes mídias não podem ser mais desprezíveis, eis que elas se superam...agora foi a vez da Veja mostrar toda a sua originalidade em achincalhar as lutas e conquistas dos movimentos sociais, aproveitando-se do climão Idade Média causado pelo domingo do Golpe e a torrente de nojeira e estupidez proferida por imbecis como Bolsolixo e sua turminha de senhores nostálgicos de seus tempos de Casa Grande e Senzala. Enfim, nossa já conhecida e estimada Veja, se superou e juntou, num mesmo amontoado de palavras vazias e discursos tendenciosos de extremo mal gosto, toda a incoerência e o atraso da lamentável burguesia brasileira.

Para começar, não sei se são capazes de enquadrar aquele lixo em algum gênero jornalístico conhecido, nem sei como alguém com alguma formação tem coragem de assinar aquilo, por isso prefiro chama-lo de falácia, me deixem acreditar que essa pobre coitada dessa Juliana Linhares estava de brincadeira, drogada ou sendo ameaçada pelo Cunha e seus asseclas para escrever aquela coisa. Pois bem, a falácia sobre a “quase primeira-dama”, Marcela Temer, já começa com o apelo descarado e um pouco triste aos delírios de eleitores, ainda deslumbrados pelos brilhos de uma elite a qual nunca pertencerão. A descrição dos restaurantes luxuosos, salões e tratamentos de beleza, além da segurança ostensiva, deveriam ser um desaforo com o contribuinte, mas, aparentemente, só aqueles que, de fato, pensam em políticas voltadas para a promoção da igualdade social é que devem se envergonhar de gastar dinheiro para ter conforto.

Mas não sejamos ingênuos, a patifaria foi importante e representa mais um passo rumo à consolidação do Golpe em curso no momento. Elevar a figura de Michel Temer a grande homem, não seria possível se ele não tivesse uma grande mulher atrás, mas bem atrás mesmo dele. Mas como convencer o povo de que uma novinha com carinha de modelete poderia representar nossa grande nação em que só o Senhor é Deus? Elementar meu caro leitor, vamos justificar sua beleza colocando-a no lugar certo: a serviço dos desejos de seu varão! E foi isso que, desgraçada e desastradamente a senhorita Linhares tentou fazer. Pintou uma criatura vazia, cuja felicidade se resume aos compromissos femininos histórica e biologicamente determinados, esposa e mãe, nada além disso. O diploma de curso superior fica como um trunfo para o marido defender-se das piadinhas sobre a inteligência questionável das caucasianas com pouca pigmentação nos cabelos.

Foi épica a forma como descreveu o tradicional hábito masculino de trocar suas esposas por sangue novo, pele firme e viçosa, afinal, o que eles podem fazer se as mulheres insistem em cometer o grande crime de envelhecer? Talvez Marcela deva agradecer por cedido sua vida sexual a um homem que, embora tenha idade para ser seu avô, esbanja “experiência de vida” para suprir todas as necessidades de sua mulherzinha, afinal uma “mulher pra casar” não precisa de experiênciaS sexuaiS. Como diria nosso amigo Lobato (1920) “Dá a natureza dois momentos divinos à vida da mulher: o momento da boneca — preparatório —, e o momento dos filhos — definitivo. Depois disso, está extinta a mulher.”
A alegoria de subalternidade que nossa Vejinha descreveu é o caminho das pedras para as mulheres que querem ser aceitas e viver o sonho burguês machista do casamento hipócrita e de interesse. Para tanto, você precisa ser uma mulheres que não sonha com postos de comando ou melhor, com lugares sociais masculinos, que têm uma vida sexual comprovadamente NORMAL (leia-se: heterossexual e apenas com as bênçãos da Santa Madre Igreja), ou seja, uma ode à mocinha burguesa “feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor e pra ser só perdão”. Quem tem o mínimo de senso crítico deve ter notado como esse modelo é exatamente o oposto daquele de uma certa mulher que ousou assumir o mais alto cargo de um país, é solteira, já foi presa e torturada por defender ideais de liberdade e igualdade e hoje recebe a represália da machistada, enlouquecida com a possibilidade de perder seus lugares e suas cativas.

Parece familiar?

Definitivamente, tudo é político, tudo é ideológico!

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