sábado, 6 de julho de 2013

Brincadeiras à parte...


Interessante a polêmica... Ironia é um recurso difícil, pois a maioria das pessoas não tem condições de compreender e outras tantas não sabem usar. Entendi os objetivos de Paulo Henrique Amorim, seria uma boa investida, um argumento contundente e ironicamente cortante, como alegou sua advogada. Porém ele desconsiderou algo fundamental em qualquer discurso e ainda mais determinante no caso das ironias: o contexto.
Atacar um reacinha da Rede Globo é sempre agradável e quanto mais humilhado, mais nos regozijamos com a exposição pública de nosso inimigo declarado. Porém Heraldo Pereira não é apenas mais um reacinha, ele também é “negro e de origem humilde”. E PHA escolheu exatamente essas características para atacá-lo, expor sua condição social e racial, como determinante para sua ascensão social e suas limitações políticas.
A afirmação de que um negro que atua sempre em defesa dos interesses da elite branca que, historicamente o oprime, é um “negro de alma branca” seria a melhor escolha de termos, uma vez que ironiza ao mesmo tempo o próprio negro que desconhece/ignora/rejeita/odeia/despreza/teme...  suas origens e a frase célebre largamente usada para elogiar o negro que foge à regra da criminalidade, incompetência, violência, etc típica de seus irmãos, o negro de alma branca, ou seja, o negro honesto, limpo, competente, calmo, etc.
De fato mataria-se dois coelhos com uma cajadada só e o resultado seria uma profusão de risos e alma lavada das sandices do reacinha despolitizado. Porém tal afirmação veio de um representante branco de outro grande meio de comunicação e ser defensor de negros,  cotas e políticas afirmativas não o tira de sua condição privilegiada de homem, branco, heterossexual e rico. Ou seja, um opressor em potencial de qualquer minoria, ainda que tenha escolhido defender esses grupos, sua condição lhe assegura que isso seja feito da maneira que ele achar melhor, pois sua escolha magnânima de “abrir mão de oprimir” para “proteger” o torna totalmente invulnerável. 
Como diria Carlos Moore racismo envolve poder, condições de oprimir, por isso a frase na boca de um outro negro garantiria a ironia e seria altamente politizada, mas na boca de um homem branco e empoderado torna-se uma ofensa desnecessária e baixa contra um negro que, mesmo longe de sua origem humilde, não pode apagar os estigmas eternos de sua cor. No fim das contas foi mais um duelo dos gigantes da TV aberta e venceu o mais forte, mas nesse duelo o povo negro também teve seus louros e não podemos abrir mão disso.

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